29/08/2010

GENTILEZA GERA GENTILEZA


A Mestra Maria Bernadete Tonetto, Professora do Curso de Comunicação Institucional fez citação do Poeta Gentileza durante o I semestre de 2010. Ela é profunda conhecedora do assunto infra abordado, além de ter residido no Rio de Janeiro, fato comentado durante a 29.ª Bienal Formando Educadores no antiteatro da Unicid:
“Quem é esse cavaleiro andante, em plena cidade contemporânea, a conduzir seu estandarte cheio de apliques, metendo-se pelos lugares, a levar sua palavra? De início, chega-nos sua estranheza, seu "deslocamento", antes, até de sua gentileza. Vê-lo com sua bata branca pela rua é ter contato com uma figura que nos parece extemporânea. Não de um futuro, mas de uma voz que ecoa, bizarramente, um sagrado que não se mostra mais.
É a partir desse primeiro contato que se percebe que, para ele, o que nos poderia parecer um deslocamento ou desvio foi uma "opção". O que Gentileza marca? Que dizer é esse que se transfere à própria ambiência da cidade, assentando-se nas pilastras de seus viadutos?
José Datrino era um empresário, dono de uma transportadora de cargas no Rio de Janeiro, que se viu sacudido por um acontecimento de grande força trágica: a queima de um grande circo na cidade de Niterói. Após seis dias, ele recebe um chamado divino para que deixe tudo que possuía e venha viver uma missão na Terra, assumindo uma nova identidade. Como explicar tal atitude e tal mudança de comportamento frente à realidade? Como é possível que um homem seja levado a abandonar tudo, recolhendo, de um episódio, o anúncio de um novo sentido à vida?Nascido em 11 de abril de 1917, em Cafelândia, interior de São Paulo, José Datrino era o segundo filho de Paulo Datrino e Maria Pim, dentre os onze filhos do casal. Viveu até os 20 anos naquela região lidando diretamente com a terra, onde ajudava a família a manter-se, mesmo em épocas difíceis. Rapaz franzino trabalhava puxando carroça para vender lenha nas cidades próximas. Algumas vezes, chegava a fazer duas viagens, numa mesma noite, para prover a família. Como lavrador aprendeu a reconhecer a riqueza da natureza. O campo ensinou também José a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, Gentileza se dizia "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento.
Desde os doze anos de idade, José já prenunciava uma missão. Achava que teria de "ter uma família, ter filhos, construir bens, mas que, um dia, teria de deixar tudo". O comportamento estranho do filho levou seus pais a suspeita de que fosse acometido de loucura. Razões místicas também foram buscadas e José foi levado a curadores espíritas para que seu problema se resolvesse. Em 1937, já com 20 anos, deixa a cidade de Mirandópolis, sem avisar a família, rumando para São Paulo. Seu destino final era o Rio de Janeiro. Ao se dar conta da partida do filho, seu pai seguiu seus passos até São Paulo, mas não conseguiu interceptá-lo. Para a família, na época, o filho tinha sido levado por um guia espiritual. José Datrino ficou quatro anos sem dar notícia a seus familiares de Mirandópolis. Conta seu irmão Pedro que, toda vez que ouvia a Maria Fumaça apitar, seus olhos se enchiam de lágrimas na esperança do retorno do irmão. Quando souberam de José, ele já estava estabelecido no Rio e pedia à mãe que lhe enviasse seus documentos. No Rio, casou-se com Emi Câmara, com quem teve cinco filhos, "três femininos, e dois masculinos".
O sustento de José Datrino e sua família provinham de fretes que ele também passou a fazer na cidade.
Aos poucos, fez crescer o negócio e, finalmente, estabeleceu-se com uma transportadora de cargas na Rua Sacadura Cabral, no centro da cidade. Cumpria-se seu prenúncio de infância: José Datrino constituíra família e bens; era um empresário possuidor de "três caminhões, três terrenos e uma casa".
Com a vida "estabelecida" no Rio de Janeiro, deu-se a grande mudança na vida de Datrino. Conta Maria Alice, sua filha mais velha, que, numa noite, viu o pai atormentado por uma visita de alguém que queria tornar-se sócio de sua empresa. Com a partida da visita, José Datrino correu para o quintal, e ali cobriu todo o corpo de terra e lama. Soltou, em seguida, os pássaros e as galinhas. “Este episódio marcante já revelava a intensidade daquele momento para o pai de família José Datrino: invocando o direito de reesculpir-se do barro, um novo homem fazia-se de um novo húmus.”
Transcrito por:Antonio Carlos de Lima-"Toninho Carlos", Estudante do Curso de Comunicação na Unicid.

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